quinta-feira, 4 de junho de 2009

RADICAIS LIVRES



O que um esquilo do Ártico tem em comum com um caramujo do Mediterrâneo? Tudo, quando se está relacionado à produção e à defesa contra radicais livres.
Os seres vivos necessitam continuamente de energia para viver. Para isso, utilizamos a glicose, principal substrato oxidável para a maioria dos organismos. No entanto, as células não utilizam a energia diretamente liberada pelos hidratos de carbono e gordura e precisam de um composto intermediário, a adenosina-trifosfato (ATP), geralmente contida nas moléculas de glicose e de ácidos graxos. Com a queima da glicose, há uma liberação de certa quantidade de energia. Todo esse processo consome oxigênio e, para resolver essa questão, as células desenvolveram um sistema que oxida lentamente os nutrientes, liberando energia de forma gradual e resultando na produção de água e dióxido de carbono – a respiração celular.
O surgimento do oxigênio na atmosfera possibilitou a criação de uma nova via metabólica com grande rendimento energético, a fosforilação oxidativa, na qual, além dos dois mols de ATP obtidos na via anaeróbica, temos a geração de mais 36 mols de ATP. O metabolismo aeróbico apresentou várias vantagens em relação ao anaeróbico, incluindo um melhor aproveitamento da energia útil derivada dos alimentos. Porém, trouxe algumas desvantagens também como, por exemplo, a formação de radicais livres.
Os radicais livres são átomos ou moléculas que contêm um ou mais elétrons desemparelhados em seu orbital mais externo e é por isso que se tornam altamente reativos, pois interagem rapidamente com proteínas, lipídios, carboidratos e ácidos nucléicos. Ao oxidar essas moléculas, podem fazer com que percam sua função de modo total ou parcial, podendo afetar o metabolismo celular. Esses radicais são produzidos principalmente na mitocôndria, embora também possam ser gerados em muitos outros compartimentos celulares.
Os principais radicais livres de oxigênio são o superóxido (O2-), com menor reatividade e capacidade de difundir-se a longas distâncias, e a hidroxila (•OH), com maior reatividade e altíssima velocidade de reação com todos os tipos de moléculas celulares, provocando danos locais.
Para combater esses agentes, os seres vivos passaram a aperfeiçoar seu metabolismo para a utilização do oxigênio. Um exemplo de aprimoramento é o esquilo do Ártico e o caramujo do Mediterrâneo, que desenvolveram um sistema extremamente complexo para combater a produção alucinante de radicais livres antes, durante e após suas fases de hibernação. Assim, atualmente os organismos possuem um complexo sistema de defesa antioxidante, com uma parte enzimática e uma não-enzimática, que agem de forma conjunta e dinâmica em sua defesa.
Um antioxidante é qualquer substância que, quando presente em baixas concentrações (comparadas ao oxidante), retarda ou inibe a velocidade de oxidação do substrato pelos radicais livres.
Os antioxidantes não-enzimáticos incluem as vitaminas E e C, flavonóides e moléculas como o β-caroteno e a glutationa (GSH). Esses antioxidantes agem principalmente na quebra da cadeia reativa, interrompendo a propagação das reações produtoras de radicais. A parte enzimática é constituída pelas enzimas superóxido-dismutase (SOD), catalase, glutationa-peroxidase, entre outras, que agem de forma coordenada na defesa contra os agentes oxidantes.
Os radicais livres, quando produzidos em níveis normais, não afetam nosso organismo, pois atuam no sistema imunológico, ajudando na defesa do corpo. O problema é quando eles são fabricados em escalas maiores. Várias doenças estão relacionadas ao aumento desenfreado de radicais livres no organismo: alguns tipos de cânceres, artrites, cardiopatias etc. O envelhecimento precoce também é um resultado dessa elevação de oxidantes.
O organismo não tem como se livrar deles. Então, para impedir sua produção elevada, é necessário evitar alguns fatores que desencadeiam uma maior geração de oxidantes como fumo, álcool, alimentos industrializados, estresse, consumo excessivo de gorduras saturadas, etc., e ingerir alguns alimentos, em boa quantidade, que contenham os antioxidantes não-enzimáticos citados acima como, por exemplo, mamão, cenoura (β-caroteno), brócolis, salsa, cebolinha, chá verde, maçã (flavonóides), laranja, morango, tangerina (vitamina C), gérmen de trigo, arroz, nozes, legumes (vitamina E), carnes, peixes, aves, leite (zinco), fígado (selênio), tomate (licopeno) etc. Além disso, atividades físicas regulares também ajudam a retardar esses efeitos deletérios.
Portanto, aplicando a receita básica, ou seja, alimentação balanceada, exercícios físicos e ingestão adequada de água, é possível ter uma vida saudável, manter a pele jovem e, ao mesmo tempo, contornar os perigos dos radicais livres tão presentes em nossas vidas hoje em dia.
Luciane Silva BaiãoMestranda em Educação Faculdade de Educação – USP

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