terça-feira, 27 de julho de 2010

Biodiversidade nos formigueiros

Confira imagens de um besouro mirmecófilo passeando entre formigas lava-pés operárias




Colônias de formigas lava-pés também albergam outras espécies de invertebrados, como besouros, lacraias, ácaros e até artrópodes que permaneciam desconhecidos. Os estranhos no ninho usam um ‘disfarce químico’ para passarem despercebidos. 
As formigas lava-pés são muito agressivas e, a menor provocação, atacam com mordidas e ferroadas (foto: E. Fox).
As formigas lava-pés, também chamadas de formigas de fogo, são conhecidas pela dolorosa ferroada. Apesar da fama de agressivos, esses animais são capazes de conviver pacificamente com outros invertebrados dentro de seus próprios formigueiros.
A descoberta é de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, que encontraram em colônias uma vasta biodiversidade de organismos — muitos deles de espécies raras ou desconhecidas —, incluindo besouros, lacraias, ácaros, traças, moscas, percevejos, aranhas, cupins e até outras formigas.
As formigas identificam companheiras pelo olfato. Elas captam os odores da cera que recobre o corpo
Para não serem reconhecidos, é comum os inquilinos adotarem uma espécie de ‘disfarce químico’, usando ceras das formigas hospedeiras.
Segundo o biólogo Eduardo G. P. Fox, pesquisador do Laboratório de Entomologia Médica do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ, as formigas identificam companheiras de colônia pelo olfato. Elas captam os odores da cera que recobre o corpo desses insetos.
Ao habitarem as lixeiras e os cemitérios dos formigueiros, os inquilinos conseguem mimetizar esses odores, retirando hidrocarbonetos (compostos químicos que formam a cera) de restos de alimentos e cadáveres. “Observações nossas em laboratório mostram que essa estratégia é utilizada principalmente por algumas traças e besouros encontrados”, conta Fox.



Parasitismo ou mutualismo

Por enquanto, foram inspecionados apenas formigueiros das espécies Solenopsis invicta e Solenopsis saevissima encontrados no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas os pesquisadores já obtiveram indícios de que os mirmecófilos (os inquilinos) geralmente mantêm relações de parasitismo ou mutualismo com as donas do território.
Foram encontradas 24 espécies, das quais cerca de 10 ainda eram desconhecidas
Um exemplo é o achado, em conjunto com Eliana M. Cancello, do Museu de Zoologia da USP, de colônias de cupins pertencentes à subfamília Apicotermitinae. Como não há soldados entre esses indivíduos, a suspeita é que eles estejam usando as formigas para defesa.
Os pesquisadores se surpreenderam ao encontrar percevejos escavadores nos formigueiros, insetos raros e pouco estudados (foto: H. Wisch).
Até agora, foram encontradas 24 espécies de artrópodes associados aos formigueiros, das quais cerca de 10 ainda eram desconhecidas pela ciência. Uma espécie de traça, recentemente descrita pelos pesquisadores, recebeu o nome de Allotrichotriura saevissima.
Também foram descobertos um novo gênero de cupins e uma nova espécie de mosca sem asas. “Apesar de pouco explorados em estudos, os formigueiros têm muito a contribuir para a ampliação do conhecimento sobre a biodiversidade do Brasil”, ressalta Daniel R. Solis, da Unesp.
Comuns em todo o território nacional, os formigueiros de lava-pés, nome popular dado a aproximadamente 20 espécies do gênero Solenopsis, caracterizam-se pela aparência de montinhos de areia, geralmente encontrados em jardins de casas e beiras de estrada.
As formigas são avermelhadas e têm comprimento que varia de 2 mm a 1 cm. De acordo com estimativas da Unesp, dos cerca de 3.500 acidentes registrados por ano em clínicas de São Paulo com ferroadas de insetos, quase metade é causada por formigas lava-pés.

Camilla Muniz
Ciência Hoje/RJ

Texto publicado originalmente na CH 272 (julho/2010)

2 comentários:

  1. Os últimod resultados de laboratório neste tema sugerem que os inquilinos não têm cheiro algum, por isso são absolutamente IGNORADOS pelas formigas!!

    Incrível, não?

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  2. Caro Anonimo 16:29h

    É verdade. Mas tb houve um caso de um percevejo do Sul do país em que ele tinha um perfil muito diferente das formigas, logo ainda é um mistério como se dá essa simbiose!.. Qualquer informação nova eu publico na revista! Abraço!

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