terça-feira, 21 de julho de 2009

A nova gripe e os velhos costumes


Aumentam os casos de gripe suína em todo o mundo, amedrontando populações e trazendo prejuízos financeiros de vulto às economias dos locais afetados.

A letalidade do vírus, por sorte (e nada mais do que isso), parece ser baixa, prevendo-se um número não muito elevado de vítimas fatais da doença.

Observa-se que o descobrimento da vacina é esperado como a solução definitiva para o problema.

Mas será mesmo?

É como se alguém encontrasse um vazamento de água em sua casa e determinasse, para solucionar a questão, que toda a mobília fosse imediatamente impermeabilizada.

Mas as causas do vazamento não foram de modo algum combatidas.

Creio que a comparação se mostra adequada.

É claro que a vacina é importante e poderá salvar muitas vidas, mas a pergunta que se impõe é o que foi ou será feito para evitar que a aparição desse tipo de ameaça seja recorrente na sociedade (lembre-se dos recentes casos da vaca louca e da gripe aviária).

As causas do aparecimento da gripe suína podem com certeza ser desvendadas, e já existiam estudos, mesmo antes da pandemia, que indicavam que o confinamento de um grande número de animais em fazendas industriais propicia um meio adequado para o surgimento e mutação de vírus potencialmente nocivos ao ser humano.

Fazendas industriais, para quem não sabe, foi o modo que o agronegócio sem preocupações éticas encontrou para aumentar a produtividade na criação de animais, confinando um número cada vez maior deles em espaços cada vez menores e cruéis, tudo em nome do aumento do lucro, sem importar o sofrimento dos seres vivos ali tratados como mercadoria e com os danos ambientais causados por esse tipo de aglomeração.

A propósito, sabe-se que no México, país onde surgiram os primeiros casos de gripe suína, existem inúmeras dessas fazendas para fornecer carne suína, principalmente à população norte-americana, em virtude de acordos comerciais.

Mas o que será feito de concreto a respeito dessas granjas, verdadeiras aberrações éticas do sistema capitalista?

Como era de se esperar, nada.

Ao contrário, rebatiza-se o vírus para não atrapalhar os negócios e se joga toda esperança na grande vacina, fazendo reféns da indústria farmacêutica um sem número de governos.

Em suma, seguindo-se a cartilha do mais puro capitalismo, a pandemia gerará crescimento para o dinheiro de alguns poucos, em detrimento do dinheiro de muitos e das verbas públicas.

E nada, absolutamente nada será feito para atacar as causas de um problema que, em um futuro retorno, poderá surgir de forma mais agressiva e devastadora.
Jaime Nudilemon Chatkin
Promotor de Justiça de Defesa Comunitária em Pelotas

Ministério das Relações Exteriores

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