terça-feira, 8 de junho de 2010

Pavimentação com bagaço de cana Uma nova mistura de asfalto substitui o uso de fibra de celulose por bagaço de cana de açúcar. Além de simples e barata, a medida permite reutilizar sobras do processo de fabricação do açúcar e do álcool.

Anualmente são produzidos, no Brasil, cerca de 132 milhões de toneladas de bagaço de cana. Cada tonelada de cana moída gera cerca de 270 kg do bagaço (foto: flickr.com/Royal Olive – CC BY-NC-ND 2.0).
Pesquisadores comprovaram que o bagaço de cana pode ser usado como aditivo estabilizante para o asfalto, evitando que o cimento escorra durante as etapas de mistura ou de aplicação.
“A principal vantagem do bagaço de cana em relação às outras fibras é o custo significativamente inferior”, afirma Cláudio Leal, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF). “Além disso, o aproveitamento desse rejeito industrial também contribui para o desenvolvimento sustentável”, ressalta o pesquisador.
O uso do bagaço de cana evita que toneladas desse resíduo sejam descartadas sem aproveitamento
A solução foi desenvolvida para o asfalto do tipo pedra matrix (ou SMA, na sigla em inglês), desenvolvido na Alemanha no final da década de 1960. Essa mistura asfáltica é empregada em rodovias com tráfego intenso, aeroportos, áreas de carga e descarga, paradas de ônibus, estacionamentos e até em pavimentos perpétuos.
“Em função do contato grão a grão das britas maiores, o SMA é mais resistente a deformações permanentes do que misturas asfálticas convencionais”, aponta Leal. O uso do bagaço de cana na mistura evita que toneladas desse resíduo sejam descartadas sem aproveitamento.

20% do bagaço vira resíduo

De acordo com o pesquisador, a produção de açúcar e álcool gera cerca de 270 kg de bagaço por tonelada de cana de açúcar moída. Estima-se que a safra brasileira produza aproximadamente 132 milhões de toneladas de bagaço por ano.
O aproveitamento deste rejeito industrial é simples: “O bagaço precisa apenas ser seco e peneirado"
Embora a maior parte seja queimada nas caldeiras das próprias usinas para geração de energia térmica ou elétrica, cerca de 20% são rejeitados no meio ambiente.
O aproveitamento deste rejeito industrial é simples: “O bagaço precisa apenas ser seco e peneirado. É diferente da produção da celulose, que envolve a polpação da madeira, um processo químico complexo e que gera alguns efluentes”, distingue Leal.
Considerando-se que a produção de uma tonelada de SMA absorve cerca de 3 kg de aditivo, o gasto com a fibra de celulose é de aproximadamente R$ 12 por tonelada de asfalto. Sua substituição, portanto, representaria uma redução de custos significativa.
A construção de um trecho experimental usando a nova fórmula do SMA está prevista para o segundo semestre de 2010, na BR-356, entre Campos dos Goytacazes e São João da Barra, no norte fluminense do estado do Rio de Janeiro.
“Já foi feito um inventário do pavimento existente, e o projeto de reforço foi elaborado”, diz o pesquisador. A vida útil do asfalto SMA é quase 50% maior do que a de misturas comuns. 

Bruna Ventura
Ciência Hoje/RJ

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