quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Poesia na Aula de Ciências

Existem relações profundas entre Ciência, Cultura e Arte. No entanto, a discussão integrada dessas dimensões raramente se realiza nas salas de aula. Numa tentativa de motivar esse diálogo, propomos a exploração, em sala, de poemas referentes à Ciência, de forma interligada e em interação com outras disciplinas.
Como um primeiro exemplo de tópico a ser trabalhado, podemos citar a ‘Máquina do Mundo’. Muitos temas relacionados à Astronomia e à visão geocêntrica do século XVI são encontrados na poesia de Camões. Outros poetas da língua portuguesa, como Carlos Drummond de Andrade e Haroldo de Campos, também abordaram esses temas. Reproduzimos abaixo um texto de Rómulo de Carvalho, físico, poeta e divulgador da Ciência que escrevia sob o pseudônimo de Antonio Gedeão.
A Máquina do Mundo
Antonio Gedeão
O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.
A evolução no tempo também permeia o pensamento de artistas e cientistas. Em quase todos os ramos da Ciência, esse conceito é fundamental no entendimento de fenômenos naturais. E na literatura poética universal, o tempo é um dos temas mais recorrentes, pela vinculação óbvia com a vida e a morte. Aqui, um exemplo tirado da obra de Murilo Mendes.
Estudo para um Caos
Murilo Mendes
O último anjo derramou seu cálice no ar.
Os sonhos caem na cabeça do homem,
As crianças são expelidas do ventre materno,
As estrelas se despregam do firmamento,
Uma tocha enorme pega fogo no fogo,
A água dos rios e dos mares jorra cadáveres.
Os vulcões vomitam cometas em furor
E as mil pernas da Grande dançarina
Fazem cair sobre a terra uma chuva de lodo.
Rachou-se o teto do céu em quatro partes:
Instintivamente eu me agarro ao abismo.
Procurei meu rosto, não o achei.
Depois a treva foi ajuntada à própria treva.
Alguns temas presentes nas obras de escritores contemporâneos são inspirados na Física Moderna. As idéias surgidas no início do Século XX, como as da Física Quântica, levaram a uma profunda revolução na Física. A letra de Gilberto Gil reproduzida abaixo é um exemplo do reflexo dessa revolução na cultura popular.
Quanta
Gilberto Gil
Quanta do latim
Plural de quantum
Quando quase não há
Quantidade que se medir
Qualidade que se expressar
Fragmento infinitésimo
Quase que apenas mental
Quantum granulado no mel
Quantum ondulado do sal.
Mel de urânio, sal de rádio
Qualquer coisa quase ideal
Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos
Canto de louvor
De amor ao vento
Vento arte do ar
Balançando o corpo da flor
Levando o veleiro pro mar
De pensamento em chamas
Inspiração
Arte de criar o saber
Arte, descoberta, invenção
Teoria em grego quer dizer
O ser em contemplação
Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos
Sei que a arte é irmão da ciência
Ambas filhas de um Deus fugaz
Que faz num momento e no mesmo momento desfaz.
Na versão integral deste texto, “Poesia na Aula de Ciências?”, Física na Escola, v.3, n.1, Ildeu de Castro Moreira, da UFRJ, cita e comenta diferentes exemplos desses temas e de outros: Os astros; A matéria, A bomba atômica; Caos e fractais; Vida, pensamento e complexidade e Ciência em si.
fonte: http://pion.sbfisica.org.b

É uma bela inspiração para aulas e projetos interdisciplinares envolvendo física, matemática, literatura e história!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua participação é importante. Deixe aqui o seu comentário!