domingo, 10 de julho de 2011

Mobilização coletiva para questões ambientais

Dividida atualmente em diversas concepções teóricas e práticas, a educação ambiental vem incorporando a preocupação com a sociedade no debate sobre o ambiente. Exemplo disso está no método de construção de um programa para a área no Rio de Janeiro.




A educação ambiental vem incorporando o aspecto social às suas práticas. Reflexo disso é a maior atenção dada a comunidades em situação de vulnerabilidade ambiental. (foto: Flickr/ GeoNando – CC BY 2.0).

Definir o que é educação ambiental, como está inserida e quais as suas formas de atuação na sociedade não é tarefa fácil. Inicialmente vinculada à biologia e à ecologia, a definição dessa área de ensino transformou-se ao longo do tempo, com o aprofundamento de questões relevantes para o homem e a sociedade e não apenas restritas aos elementos da natureza.
A educação ambiental abrange uma multiplicidade de seguimentos teóricos, que adotam práticas diferentes, porém muitas vezes complementaresHoje, a educação ambiental abrange uma multiplicidade de seguimentos teóricos, que adotam práticas diferentes, porém muitas vezes complementares.
Um dos enfoques mais corriqueiros – e criticados por muitos – é apenas o estímulo à mudança de comportamentos individuais, como a redução do consumo de água e energia e a reciclagem de resíduos domésticos. Outra abordagem, voltada ao público infantil e chamada alfabetização ecológica, promove a sensibilização lúdica para questões ambientais.
Uma terceira vertente vem incorporando a preocupação com a sociedade no debate sobre o ambiente, pois considera que um problema ambiental é sempre decorrente de um conflito social. Na prática, três aspectos tornam-se essenciais: a adoção de um processo contínuo de formação do indivíduo, a promoção de uma postura ativa e transformadora no meio em que se vive e a mobilização coletiva.
Um exemplo dessa concepção mais crítica de educação ambiental está se desenhando na esfera governamental com o Programa Estadual de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (ProEEA-RJ)
Construção descentralizada.
A proposta de criação do programa estadual existe desde 1999, quando foi formulada a Política Estadual de Educação Ambiental (Lei nº. 3325). Mas apenas em 2007 a ideia começou a sair do papel, com a reestruturação do Grupo Interdisciplinar de Educação Ambiental (Giea) – composto por especialistas tanto do poder público quanto da sociedade civil –, que ficou à frente da construção do ProEEA-RJ.
“Poderíamos ter criado um programa dentro do escritório”, comenta a bióloga Lara Moutinho, superintendente de educação ambiental do estado do Rio de Janeiro e coordenadora do programa. “Mas optamos por uma construção coletiva e descentralizada, organizando, por todo o estado, reuniões e encontros que trouxessem contribuições de grupos com interesse em educação ambiental.
Ao todo, foram organizados oito seminários regionais ao longo de 2010. Os eventos contaram com a participação de moradores e interessados em geral, que apresentaram contribuições a um texto-base elaborado pelo Giea.
“Deve-se respeitar o direito das comunidades em situação de vulnerabilidade ambiental. Muitas vezes, elas são destituídas de visibilidade pelo poder público”“Nas regiões dos Lagos e metropolitana, o público foi maior e mais politizado”, conta Moutinho. “Nessas áreas, há um histórico de movimentos sociais mais atuantes”, afirma a bióloga, ao refletir sobre o perfil dos participantes das diferentes localidades.
Segundo o engenheiro ambiental Alexandre Pessoa Dias, professor da Fundação Oswaldo Cruz e participante ativo do seminário metropolitano, “essa metodologia participativa trouxe muita riqueza ao documento”.
Dias argumenta que, historicamente, a elaboração de políticas públicas costuma excluir da discussão os principais atores atingidos por elas. “Deve-se respeitar o direito das comunidades em situação de vulnerabilidade ambiental. Muitas vezes, elas são destituídas de visibilidade pelo poder público.”
Visão crítica
Com o programa, o governo estadual pretende guiar as práticas de educação ambiental do Rio de Janeiro para um viés mais crítico em relação aos problemas socioambientais. “O programa tem caráter estruturante e será um norte para as iniciativas na área, oferecendo apoio, suporte e diretrizes”, diz Moutinho.
O plantio de mudas - prática corriqueira em iniciativas de educação ambiental -, asssim como outras atividades com enfoque estritamente biológico, pode não ser suficiente para transformar a relação da sociedade com o ambiente. (foto: Flickr/imprensalaurodecom - CC BY 2.O).

Atualmente, grande parte das ações de educação ambiental no estado tem enfoque estritamente biológico. “Essas práticas ocorrem em larga escala por serem mais fáceis”, analisa o biólogo Carlos Frederico Loureiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
“Quando as iniciativas se resumem a reciclar papel, economizar água, plantar árvores e fazer hortas escolares, por exemplo, todo mundo é a favor; mas isso só atinge o aparente, não altera as relações das pessoas entre si e com o ambiente”, ressalta.
Loureiro pondera que o programa funciona bem em um governo sensível às questões ambientais, como o atual. “Se o governo mudar, sua implementação pode ficar fragilizada”, completa. Para atenuar esse risco, seria preciso que movimentos sociais cobrassem a aplicação do programa na forma em que foi estruturado, além de uma divulgação massiva do material, que viabilize o controle social.
O texto final do programa deveria ter sido apresentado na Semana do Meio Ambiente, no início de junho. Alexandre Dias receia que o documento seja finalizado somente no próximo ano. “Seria ruim se isso acontecesse, pois, em 2012, será a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20) e o Rio não pode estar sem um programa estadual para educação ambiental”, pondera o professor.

Gabriela Reznik
Ciência Hoje On-line

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