sábado, 3 de dezembro de 2011

Notícias de um melanoma


Vídeo animado busca mostrar ao público, especialmente jovem, as principais características do mais agressivo dos cânceres de pele.
Em ‘Memórias de minhas pintas tristes’, uma pinta simpática e saudável convence outra escura e de bordas irregulares a ir ao médico. (imagem: reprodução) 

Você sabe como identificar uma pinta maligna? Se sabe, está de parabéns. Você faz parte de uma minoria de jovens brasileiros capaz de apontar as características principais de um possível câncer de pele, o mais frequente no país.
É o que indica estudo feito pelo Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre novembro de 2009 e março de 2010, pesquisadores do núcleo se besuntaram de protetor solar e saíram pelas praias cariocas entrevistando jovens entre 11 e 29 anos sobre questões relacionadas ao câncer de pele.
No total, foram 820 entrevistados, metade homem, metade mulher. A maioria do Rio, mas também turistas de outros cantos do país. Entre os resultados, alguns dados alarmantes: 74% dos entrevistados costumam ‘descascar’, 42% nunca foram ao dermatologista; dos que vão, 48% os procuram quando aparece algum problema de pele.
E ainda: “A maioria não sabe descrever as características principais de uma pinta maligna, em especial do melanoma, que é o câncer de pele mais agressivo”, afirma a microbióloga e divulgadora da ciência Marina Verjovsky, uma das integrantes do grupo. Segundo ela, apenas 10% das pessoas ouvidas apontaram características relacionadas à doença.
“A maioria não sabe descrever as características principais de uma pinta maligna, em especial do melanoma, que é o câncer de pele mais agressivo”
Os resultados – preocupantes – da pesquisa serviram de base para a criação do vídeo Memórias de minhas pintas tristes, que busca mostrar ao público, principalmente jovem, alguns traços do melanoma, como pintas bem escuras, com variação até o marrom, com bordas irregulares e que crescem com o tempo.
Assim se apresenta um dos protagonistas da animação, que encontra uma pinta simpática e saudável na praia que o convence a ir ao médico. Seu fim não é lá muito feliz mesmo, mas a mensagem é bastante clara: se sua pinta tiver bordas irregulares, diferentes tonalidades, crescer ou sangrar, procure um dermatologista.
“Procuramos principalmente incentivar as pessoas a buscar o médico dermatologista ao identificarem pintas consideradas estranhas”, diz Verjovsky. “A ideia é mostrar a importância do diagnóstico precoce, que aumenta muitíssimo as chances de cura total.”

Uma cruzada contra o câncer

Memórias de minhas pintas tristes é o terceiro de uma série de vídeos de animação voltados à prevenção do câncer e uma dentre as diversas iniciativas nessa linha desenvolvidas pelo Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia.
Os outros dois vídeos – Amor em tempos de HPV e Jogo de uma morte anunciada – tratam, respectivamente, dos riscos de se contrair o vírus do papiloma humano e da relação entre a indústria do tabaco e os jovens.
Os roteiros foram todos desenvolvidos no âmbito do núcleo, com a consultoria de especialistas da UFRJ e do Inca. Já as animações ficaram a cargo de duas profissionais contratadas, que usaram diferentes técnicas para a produção dos vídeos.
Enquanto no primeiro – Amor em tempos de HPV – utilizou-se a técnica stop motion, na qual os personagens são movimentados e fotografados quadro a quadro, nos outros dois, optou-se pelas técnicas de animação em flash e rotoscopia – desenho sobre filmagem.
Os três vídeos são marcados por poucas falas, para atingir um maior número de pessoas. Atenção especial é dada ao público surdo, com o qual o grupo vem trabalhando em outros projetos. Ao final de cada animação, há mensagens relacionadas ao tema em libras, a língua brasileira dos sinais.
Os três vídeos são marcados por poucas falas, para atingir um maior número de pessoas
Por traz das causas nobres, há também uma alta dose de diversão. “As reuniões para discussão de concepção e roteiro são tão divertidas que ninguém se sente trabalhando”, conta Verjovsky. “Depois, cada pedacinho que vai ficando pronto é discutido, revisado e nos deliciamos com as ideias tomando corpo.”
A divulgadora, no entanto, mesmo com os vídeos prontos, ainda tem um longo trabalho pela frente. Os estudos nos quais se baseiam fazem parte do seu projeto de doutorado sobre o papel da divulgação científica na prevenção ao câncer, especificamente entre jovens, cursado no Instituto de Bioquímica da UFRJ.
Em tempo: Os títulos dos vídeos – e o deste post – são uma homenagem ao escritor colombiano Gabriel García Márquez, admirado tanto pelo núcleo quanto pela equipe da CH On-line.

Carla AlmeidaCiência Hoje On-line

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