quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Agricultura orgânica














É cada vez maior o número de pessoas que estão buscando uma alimentação mais saudável, na tentativa de resgatar um tempo em que ainda era possível ter à mesa alimentos frescos, de boa qualidade biológica e livres de agrotóxicos.
Hoje em dia, esse tipo de alimento pode ser encontrado, com alguma facilidade - pelo menos nas grandes cidades - nos supermercados, lojas especializadas e feiras de produtores. São os “alimentos orgânicos”, produzidos segundo critérios rígidos de qualidade, por agricultores que fazem parte de associações de agricultura orgânica. Eles utilizam apenas métodos e práticas ecológicas em suas plantações.
Formam um grande movimento, bastante organizado, coordenado mundialmente pela IFOAM - International Federation of Organic Agricuture Movements (Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica), com sede na Inglaterra.

O Instituto Biodinâmico - IBD, que há vinte anos atua no campo de pesquisa e desenvolvimento da agricultura orgânica e biodinâmica no Brasil, define, assim, um produto orgânico:

“...é muito mais que um produto sem agrotóxicos e sem aditivos químicos. É o resultado de um sistema de produção agrícola que busca manejar de forma equilibrada o solo e demais recursos naturais (água, plantas, animais, insetos e outros), conservando-os no longo prazo e mantendo a harmonia desses elementos entre si e com os seres humanos.
Para ofertar ao consumidor alimentos saudáveis e nutritivos, o agricultor deve trabalhar em harmonia com a natureza, recorrendo aos conhecimentos de diversas ciências como a agronomia, ecologia, sociologia, economia e outras. A produção orgânica obedece a normas rígidas de certificação que exigem, além da não utilização de agrotóxicos e drogas venenosas, cuidados com a conservação e preservação dos recursos naturais e condições adequadas de trabalho.”

História da agricultura orgânica

A história da agricultura orgânica é antiga. Começa no século 19 e chega aos dias de hoje, com final feliz. Vamos dividi-la em alguns momentos importantes, para que você entenda um pouco sobre as discussões que se travaram, ao longo dos anos, em torno do assunto.

Os fertilizantes químicos são descobertos.

Até os meados do século XIX, o descanso da terra e a utilização de esterco eram as únicas receitas conhecidas para a recuperação das áreas agrícolas, eram as maneiras que os agricultores utilizavam para recolocar o solo em condições de produzir. Foi quando um pesquisador alemão, Justus von Liebg, descobriu o efeito fertilizante do nitrogênio sobre as plantas, depois do potássio e do fósforo e de mais alguns micronutrientes. Foi uma revolução sem precedentes. Num terreno cansado, uns poucos quilos de adubos químicos podiam fazer aquilo que o descanso levaria anos para conseguir ou que exigiria toneladas de esterco ou de esforço humano. Mas nem todos concordaram com os novos métodos.

Alguns setores científicos rejeitaram a utilização dos adubos químicos, formando as escolas de agricultura orgânica que temos até hoje. Na primeira metade do século 20, surgiram eminentes pesquisadores, médicos e filósofos, pesquisando e propondo métodos e práticas para o incremento da fertilidade dos solos de forma orgânica, rejeitando a utilização desses novos adubos químicos, que estavam sendo utilizados. Seus trabalhos renderam bons frutos. Cada qual atuou a seu modo, em seus diferentes países, surgiram os seguidores, criaram-se escolas e institutos, desenvolvendo a fundamentação científica que embasa as práticas atuais da agricultura orgânica.

Grandes vertentes de pensamento formaram-se: a da agricultura biodinâmica, a biológica, a orgânica, a natural. Todas se reúnem hoje, num só movimento, sob a denominação de agricultura orgânica.

A seqüência, no tempo, os principais fatos e personagens, foram os seguintes:

Em 1924, o filósofo austríaco, Rudolf Steiner, apresentou uma visão alternativa de agricultura, baseada na ciência espiritual da antroposofia, aos agricultores que se preocupavam com o rápido declínio das lavouras e criações submetidas às tecnologias modernas e à química, lançando os fundamentos do que seria a agricultura biodinâmica. Nela, o agricultor procura fazer de sua propriedade um organismo integrado, com entrada mínima de recursos de fora da propriedade; utiliza preparados homeopáticos para vitalizar as plantas e estimular o seu crescimento. As idéias de Steiner foram difundidas para vários países do mundo, com a colaboração de outros pesquisadores. Nos dias atuais produtos biodinâmicos são comercializados com o selo da Associação Demeter, sediada na Alemanha e que é representada no Brasil pela Associação Biodinâmica.

Alguns anos mais tarde, nas décadas de 30 e 40 - o inglês Sir Albert Howard dá início a uma das mais difundidas correntes do movimento orgânico, a da agricultura orgânica. Sir Howard trabalhou com pesquisas na Índia durante 40 anos, publicando obras relevantes, defendendo a não utilização de adubos artificiais e, particularmente de adubos químicos, destacando a importância do uso de matéria orgânica na melhoria da fertilidade e vida do solo e que da fertilidade natural do solo dependia a resistência das plantas a pragas e doenças. No final da década de 40, nos Estados Unidos, Jerome Inving Rodale, influenciado pelas idéias de Howard, fundou um forte movimento em prol da agricultura orgânica. O Rodale Institute realiza pesquisa, extensão e ensino em agricultura orgânica até os dias de hoje.

Após os modelos criados por Steiner e Howard, também no início dos anos 30, outro biologista e homem político, Hans Muller, trabalhou na Suíça em estudos sobre fertilidade do solo e microbiologia, criando a agricultura biológica. Esse movimento fez numerosos adeptos, destacadamente na França (Fundação Nature & Progrès), na Alemanha (Associação Bioland) e na Suíça (Cooperativa Muller). Dentro dessa tendência, cabe destacar ainda a participação de dois pesquisadores franceses considerados como personagens-chaves no desenvolvimento científico da agricultura orgânica. O primeiro é o pesquisador Claude Aubert, que publicou L’Agriculture Biologique ou “A Agricultura Biológica”, em que destaca a importância de manter a saúde dos solos para melhorar a saúde das plantas e, em conseqüência melhorar a saúde do homem. O segundo personagem importante é Francis Chaboussou, que publicou em 1980, Les plantes malades des pesticides, traduzido para o português como “Plantas doentes pelo uso de agrotóxico: a teoria da trofobiose”. Sua obra mostra que uma planta em bom estado nutricional torna-se mais resistente ao ataque de pragas e doenças. Outro ponto que o autor destaca é que o uso de agrotóxicos causa um desequilíbrio nutricional e metabólico à planta, deixando-a mais vulnerável e causando alterações na qualidade biológica do alimento.

Outra corrente importante do movimento orgânico é a da agricultura natural, surgida em meados da década de 1930, com o filósofo japonês Mokiti Okada que ensinava que a purificação do espírito deve ser acompanhada pela purificação do corpo, daí a necessidade de evitar os produtos tratados com substâncias tóxicas. Suas idéias foram reforçadas e difundidas internacionalmente pelas pesquisas de Masanobu Fukuoka, que defendia a idéia de artificializar o menos possível a produção, mantendo o sistema agrícola o mais próximo possível dos sistemas naturais. Na Austrália, essas idéias evoluíram nas mãos do Dr. Bill Mollison e deram origem a um novo método conhecido como permacultura.

Os venenos passam a ser utilizados na agricultura: inseticidas, fungicidas e herbicidas

O avanço desses movimentos de agricultura orgânica e das suas repercussões práticas foi barrado, a princípio, em função do forte lobby da agricultura química, ligada a interesses econômicos expressivos. Além dos adubos, um outro tipo de produtos químicos, os “cidas” - inseticidas, fungicidas e herbicidas - que conseguem matar os insetos, os fungos e as ervas daninhas que incomodam os agricultores, haviam sido desenvolvidos e estavam sendo comercializados e utilizados por todos.

O que ocorreu é que as tecnologias que tinham sido desenvolvidas durante as Guerras Mundiais foram vistas como muito úteis para a produção agrícola. Por exemplo: o produto químico nitrato de amônio, que era usado como munição, se tornou um fertilizante eficaz; os organofosforados usados na fabricação de gás foram utilizados mais tarde como inseticida; a partir do agente laranja utilizado como desfolhante na Guerra do Vietnã, desenvolveram-se os herbicidas, que controlam as plantas invasoras das culturas. Abriu-se espaço para um novo e lucrativo mercado.

Com esses recursos, as propriedades agrícolas começaram a obter produções incríveis.

A química dava ao homem um poder imenso diante das adversidades da natureza que, por séculos, fizeram parte do dia-a-dia da vida no campo. Tudo muito fácil e muito simples: se a terra está cansada, não é preciso recuperá-la, basta aplicar adubo químico na planta; se a formiga aparece, você joga veneno na lavoura; se é doença de folha, aplica-se o fungicida etc, etc. Esses produtos passaram a ser utilizados em larga escala, a agricultura tornou-se completamente dependente da indústria de agroquímicos.

A utilização de inseticidas se expandiu inicialmente nos países industrializados, já sendo corrente no final da década de 1950 nos EUA, na Europa Ocidental e no Japão. Ocupados esses mercados, a expansão foi orientada para os países pobres, sobretudo para aquelas culturas que pudessem pagá-los. No Brasil, a grande expansão do uso de inseticidas ocorreu apenas nos anos de 1970, vinculada ao crédito rural subsidiado, quando a liberação do crédito foi condicionada à utilização dos agrotóxicos.

A consciência ecológica

No início dos anos 1960, a publicação do livro Silent Spring, em português “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, chamou a atenção da opinião pública para os danos que a utilização de inseticidas estava causando ao ambiente, inclusive a grandes distâncias das áreas de aplicação.

Nas décadas de 1970 e 1980, sucedem-se as constatações da poluição generalizada no planeta e as conseqüentes ameaça de extinção de vários animais como os ursos polares no Ártico e exaustão iminente das reservas de importantes recursos naturais. A poluição dos ecossistemas havia atingido tais proporções que ameaçava as bases de sustentação da vida. A contaminação das águas doces e dos oceanos, a diminuição da camada de ozônio, o comprometimento das cadeias tróficas, os resíduos de agrotóxicos no leite materno e na água das chuvas, as chuvas ácidas, tudo isso não eram mais especulações ou alarmismo, mas fatos concretos e devidamente documentados. A agricultura, em particular, tornara-se a maior fonte de poluição difusa do planeta. A situação era claramente insustentável.

Para os organismos internacionais, especialmente as Nações Unidas, a postura predominante até o início dos anos 1970 era a de que toda a contestação ao modelo agrícola convencional era improcedente. Contudo, o acúmulo de evidências em contrário foi obrigando a uma mudança da postura oficial. Na seqüência de Conferências da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1972, 1982 e 1992, foi se tornando cada vez mais evidente que tanto o padrão industrial quanto o agrícola precisavam de mudanças urgentes.

Com a consciência ecológica, nos anos 1980 e 1990, a proposta de uma agricultura sustentável ganha força, entre os produtores e os consumidores e governos.

Para o grande público, até o final da década de 1970, o termo ecologia não existia. Com a crescente conscientização da magnitude dos problemas ambientais, o termo passou a ser reconhecido com facilidade, sempre associado à preservação ou recuperação do meio ambiente e à saúde das pessoas. Os produtos orgânicos, por serem identificados como ecológicos, começaram a ser muito bem aceitos pelo mercado e as iniciativas de produção orgânica passaram a ser muito bem sucedidas.

No Brasil se diversificaram os setores interessados nos métodos orgânicos. Na década de 1970, eram quase que exclusivamente os alternativos. Na década de 1980, somaram-se os movimentos ligados à agricultura familiar, e, em parte, o movimento ambientalista. A partir de meados da década de 1990, o interesse mais evidente passou a vir do mundo empresarial, especialmente de supermercados e de produtores rurais mais capitalizados.










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