sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Floresta amazônica: os pecuaristas no banco dos réus

Pecuária contra floresta. Essa batalha desigual que há décadas perdura no Brasil está tendo um novo desdobramento. Com o Ministério Público ingressando com ações contra 22 fazendas e 13 grupos de transporte frigorífico, e ameaçando fazer o mesmo contra 72 outras empresas, os maiores exportadores de carne brasileiros se comprometeram nesta segunda-feira (5) a instaurar e respeitar a rastreabilidade dos produtos bovinos.

Essa queda de braço vem na sequência de um relatório do Greenpeace, divulgado em agosto de 2009, sobre "o massacre da Amazônia" que mostrava as relações entre a expansão devastadora da pecuária e a destruição da floresta. A organização ambientalista acusava empresas do sul do Brasil que produzem carne e couro proveniente de 150 mil hectares desmatados ilegalmente. Esses produtos, uma vez "esquentados", são revendidos a empresas que abastecem grandes marcas mundiais de calçados, alimentos ou carros. Na Amazônia, segundo o Greenpeace, os pecuaristas queimam um hectare de floresta primária a cada 18 segundos. E o Brasil é o quarto maior emissor de gases causadores de efeito estufa do mundo.
É sobre essas "frentes pioneiras", territórios em transição entre a floresta ocupada por seus povos de sempre e as paisagens agrícolas exploradas predominantemente por pecuaristas, que se passa a tragédia do desmatamento amazônico. Nos anos 1960 e 1970, no apogeu da ditadura militar, o Estado exaltava o povoamento e a valorização da Amazônia. Um slogan da época, com um toque ameaçador, proclamava: "Ocupem a terra, senão a perderão". Milhões de brasileiros migrariam para a "nova fronteira". Foram incitados a cortar e a queimar a floresta que, acreditava-se, valia nada ou muito pouco.

Ao lado da tradicional "Amazônia dos rios" se desenvolveu a "Amazônia das estradas", e depois a dos novos espaços rurais e urbanos em torno de pequenas cidades surgidas do nada. O Incra, instituto encarregado da reforma agrária, se tornou o principal desmatador. Nessa época pré-ecológica, os colonos eram celebrados por sua contribuição valorosa para a construção nacional.
Apesar dessa mudança de direção, há poucas chances de que as coisas mudem. A pecuária continua sendo atraente para os pequenos agricultores. "É o modo de vida mais bem adaptado às precariedades das frentes pioneiras", explica René Poccard-Chapuis, coordenador em Belém do Cirad (Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica). "Em um território imenso, as dificuldades de circulação, a falta de infraestrutura e as difíceis condições de trabalho desencorajaram ou marginalizaram as culturas perenes."

O pasto é um excelente meio de marcar a propriedade fundiária, chave do enriquecimento e da especulação. A pecuária extensiva exige pouco esforço e um pequeno investimento. Até os mais pobres podem se aventurar, alugando um rebanho e dividindo as receitas dele. O gado permite tornar seu capital mais seguro e tirar dele dinheiro líquido a qualquer momento, graças à organização eficaz da indústria.

A luta contra o desmatamento pressupõe que sejam seguidas as políticas de controle iniciadas: vigilância por satélite, regularização fundiária, instalação de um cadastro, generalização da rastreabilidade dos produtos. Acima de tudo, a longo prazo será preciso proibir aos madeireiros e aos pecuaristas, que trabalham em conjunto, que tenham acesso às florestas ameaçadas.

A imensa maioria dos pequenos agricultores, enquanto esperam que lhes seja proposta uma forma mais sustentável de desenvolvimento, continuarão a encontrar segurança na pecuária. Sobre as cinzas da floresta.

Hoje, pelo meio ambiente, tudo mudou. Os antigos colonos, ou seus filhos, são vilipendiados. Eles não aceitam bem o fato de serem criticados por continuar a fazer aquilo que sempre fizeram para a satisfação outrora geral: conduzir rebanhos de gado zebu sobre as ruínas da floresta.

No meio tempo, o Brasil se tornou o principal exportador de carne do mundo, com 30% do mercado. Ele possui o maior rebanho do globo, com 200 milhões de cabeças, sendo que 30 milhões estão na Amazônia. Segundo o pesquisador Paulo Baretto, do instituto Imazon, os números do desmatamento seguem, com um ano de atraso, as variações de cotação da carne na Bolsa de Chicago.

08/10/2009

Um comentário:

  1. O agronegócio manda nesse pais, principalmente na imprensa. É dificil uma notícia dessas na TV aberta. Eles só sabem atacar o MST.

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