A abelha mamangava está desaparecendo do Sul do país, mostram cientistas da UFPR. A principal acusada dessa extinção local é a mudança climática, ao lado de outros fatores.
Por: Sofia Moutinho Publicado em 09/11/2009 | Atualizado em 06/11/2009
Abelha rainha da espécie Bombus bellicosus, extinta no Paraná e ameaçada em todo o Sul do Brasil (foto: Laboratório de Biologia Comparada de Hymenoptera/UFPR).
Uma pesquisa brasileira revela que a abelha da espécie Bombus bellicosus, popularmente conhecida como mamangava, pode estar extinta localmente no Brasil. O inseto, originalmente encontrado em áreas de vegetação campestre no Sul do país, desapareceu do Paraná, onde era muito abundante, e ainda se mantém no Uruguai e Argentina. Segundo os cientistas, a principal causa para seu extermínio em território nacional é o aquecimento global, seguido de outros fatores como a poluição e as mudanças em seu hábitat.
Estudos de campo feitos entre 2002 e 2005 por pesquisadores do Laboratório de Biologia Comparada de Hymenoptera do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), evidenciaram o desaparecimento da mamangava em locais onde há 20 anos ela era comum.
Os cientistas monitoraram Ponta Grossa, no Paraná, além dos municípios de Esteio e Bom Jesus, no Rio Grande do Sul e algumas regiões de Curitiba e Santa Catarina. Nenhum espécime foi encontrado vivo no Paraná e constatou-se que a espécie está em processo de extinção nas outras regiões. Os resultados do trabalho foram publicados em agosto na revista Insect Conservation.
“A mudança climática é o fator mais decisivo na extinção desta espécie”, explica a bióloga Aline Martins, envolvida na pesquisa. “É provável que as recentes mudanças de temperatura tenham afetado essas populações.”
Outro indício de que as mudanças climáticas seriam as principais responsáveis pelo sumiço da mamangava é o crescimento populacional de outras duas espécies de abelha da região que toleram temperaturas mais elevadas. Mais adaptadas ao meio, essas espécies ocuparam o lugar da mamangava.
A poluição e o desmatamento das regiões antes habitadas pela mamangava também foram decisivos para a sua extinção. Os campos naturais de Curitiba têm sido extensamente desmatados para a construção civil e agropecuária. De 1960 a 2007, a população da região cresceu de 361.309 para 1.828.092, segundo dados do Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE). Além disso, de acordo com Martins, não há áreas destinadas à preservação ambiental dos campos da região.
O desmatamento restringe as fontes de alimentos e outros recursos naturais necessários às abelhas. No entanto, de acordo com a pesquisadora, as abelhas do gênero Bombus, como a B. bellicosus, não requerem nenhum material especial para construir seus ninhos, que ficam em cavidades debaixo do solo, nem possuem alimento específico. Essas abelhas são generalistas e usam mais de 60 espécies de planta de 18 famílias diferentes como fonte de néctar e pólen. Assim, as mudanças no hábitat da mamangava não foram tão decisivas para o seu extermínio quanto o aquecimento global.
De acordo com Martins, o comportamento social da mamangava aumenta suas chances de extinção completa. Ao contrário da maioria das espécies de abelhas, em que a fêmea constrói e cuida sozinha do seu próprio ninho, as mamangavas vivem em pequenas populações organizadas em sociedade. “As populações de abelhas sociais são menos resistentes que as solitárias, porque a variabilidade genética entre os seus indivíduos é comparativamente menor”, explica a pesquisadora. “Como o cruzamento entre indivíduos só se dá dentro da colônia, a chance de acorrem problemas genéticos é maior.”
A pesquisa com as mamangavas faz parte de um projeto maior que desde 1960 monitora a fauna de abelhas em Curitiba. O próximo passo da investigação tentará prever a possível distribuição geográfica da B. bellicosus antes de extinta por completo. Os pesquisadores utilizarão programas de computador capazes de determinar os futuros locais de ocorrência da abelha a partir da análise de dados climáticos e geológicos das regiões que ela originalmente habitava. “Com o modelo de distribuição, poderemos comprovar que a mudança climática foi a responsável pela extinção local da mamangava”, acredita a pesquisadora.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line
Estudos de campo feitos entre 2002 e 2005 por pesquisadores do Laboratório de Biologia Comparada de Hymenoptera do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), evidenciaram o desaparecimento da mamangava em locais onde há 20 anos ela era comum.
Os cientistas monitoraram Ponta Grossa, no Paraná, além dos municípios de Esteio e Bom Jesus, no Rio Grande do Sul e algumas regiões de Curitiba e Santa Catarina. Nenhum espécime foi encontrado vivo no Paraná e constatou-se que a espécie está em processo de extinção nas outras regiões. Os resultados do trabalho foram publicados em agosto na revista Insect Conservation.
“A mudança climática é o fator mais decisivo na extinção de espécies.”
O levantamento da espécie na região já era feito há 40 anos, o que ajudou na pesquisa. Durante a análise desses dados, os cientistas perceberam que o último registro da espécie no Brasil, de 1980, coincidia justamente com o período em se iniciou a intensificação do aquecimento global.“A mudança climática é o fator mais decisivo na extinção desta espécie”, explica a bióloga Aline Martins, envolvida na pesquisa. “É provável que as recentes mudanças de temperatura tenham afetado essas populações.”
Região de borda
A bióloga explica que no Paraná a abelha habitava uma região no limite norte de sua distribuição no Brasil, e isso parece ter colaborado para a extinção local do animal. “Populações no limite da distribuição tendem a ser menores e, por isso, seus indivíduos têm mais chances de cruzar entre si, o que reduz a possibilidade de surgirem indivíduos geneticamente diferentes e, portanto, mais resistentes”, diz Martins.Outro indício de que as mudanças climáticas seriam as principais responsáveis pelo sumiço da mamangava é o crescimento populacional de outras duas espécies de abelha da região que toleram temperaturas mais elevadas. Mais adaptadas ao meio, essas espécies ocuparam o lugar da mamangava.
A poluição e o desmatamento das regiões antes habitadas pela mamangava também foram decisivos para a sua extinção. Os campos naturais de Curitiba têm sido extensamente desmatados para a construção civil e agropecuária. De 1960 a 2007, a população da região cresceu de 361.309 para 1.828.092, segundo dados do Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE). Além disso, de acordo com Martins, não há áreas destinadas à preservação ambiental dos campos da região.
O desmatamento restringe as fontes de alimentos e outros recursos naturais necessários às abelhas. No entanto, de acordo com a pesquisadora, as abelhas do gênero Bombus, como a B. bellicosus, não requerem nenhum material especial para construir seus ninhos, que ficam em cavidades debaixo do solo, nem possuem alimento específico. Essas abelhas são generalistas e usam mais de 60 espécies de planta de 18 famílias diferentes como fonte de néctar e pólen. Assim, as mudanças no hábitat da mamangava não foram tão decisivas para o seu extermínio quanto o aquecimento global.
O sumiço das abelhas
A extinção de abelhas é um fenômeno observado em todo o planeta nos últimos anos. Somente entre 1950 e 2000, 13 espécies do gênero Bombus desapareceram em pelo menos um país europeu e quatro já são consideradas extintas da Europa. A abelha é considerada um importante indicador de qualidade ambiental por ser um inseto muito sensível às mudanças do meio.A abelha é o mais importante polinizador da natureza
O desaparecimento de populações desse animal pode gerar fortes impactos no ecossistema, pois a abelha é o mais importante polinizador da natureza. Algumas plantas são polinizadas apenas por determinadas espécies de abelha e, por isso, sua extinção pode levar à extinção da planta e à consequente escassez de alimentos para outros animais, como aves, mamíferos e até humanos, que cultivam alguns tipos de grãos e verduras dependentes da polinização.De acordo com Martins, o comportamento social da mamangava aumenta suas chances de extinção completa. Ao contrário da maioria das espécies de abelhas, em que a fêmea constrói e cuida sozinha do seu próprio ninho, as mamangavas vivem em pequenas populações organizadas em sociedade. “As populações de abelhas sociais são menos resistentes que as solitárias, porque a variabilidade genética entre os seus indivíduos é comparativamente menor”, explica a pesquisadora. “Como o cruzamento entre indivíduos só se dá dentro da colônia, a chance de acorrem problemas genéticos é maior.”
A pesquisa com as mamangavas faz parte de um projeto maior que desde 1960 monitora a fauna de abelhas em Curitiba. O próximo passo da investigação tentará prever a possível distribuição geográfica da B. bellicosus antes de extinta por completo. Os pesquisadores utilizarão programas de computador capazes de determinar os futuros locais de ocorrência da abelha a partir da análise de dados climáticos e geológicos das regiões que ela originalmente habitava. “Com o modelo de distribuição, poderemos comprovar que a mudança climática foi a responsável pela extinção local da mamangava”, acredita a pesquisadora.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line
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