quarta-feira, 19 de maio de 2010

Butantan tinha recebido R$ 1 milhão para infraestrutura

Não foi por falta de dinheiro que o Instituto Butantan não melhorou a segurança de seu acervo de serpentes. Entre 2007 e 2008, a instituição recebeu quase R$ 1 milhão da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para reforçar sua infraestrutura. Segundo levantamento feito pela Fapesp, esse montante veio de uma modalidade de financiamento conhecida como reserva técnica.
Esse dinheiro pode ser usado também para adquirir equipamentos importantes para os projetos, mas a maneira como ele é gasto é determinada não pela Fapesp, mas pela própria instituição que o recebe.
Ainda de acordo com a fundação, principal financiadora da ciência paulista, nenhuma fração dos recursos foi empregada em sistemas de prevenção de incêndio no Butantan.
De acordo com a Fapesp, o instituto apresentou propostas para outros editais mais recentes, que aceitaram inscrições até o fim de dezembro do ano passado e março deste ano. Esses editais pertencem a um programa de apoio à infraestrutura de instituições científicas, o qual inclui verba para coleções biológicas.
No primeiro caso, o Butantan pediu verbas da ordem de R$ 419 mil e US$ 146 mil (nesse caso, para gastos em dólar). O plano era informatizar as coleções do instituto. No segundo, os recursos requisitados (R$ 877 mil) se destinariam a classificar e informatizar o acervo de documentos históricos.
Nesses casos, também não houve menção à necessidade de prevenir incêndios.
Otávio Mercadante, diretor-geral do Instituto Butantan desde 2003, admite que não faltou dinheiro. "O dinheiro vinha [para o Butantan] de várias fontes. Do BNDES, da Fapesp, da Fundação Butantan, da Finep."
Segundo ele, apesar do incêndio, os prédios do local são seguros, e havia manutenção periódica. "Todos eles têm uma infraestrutura que é adequada. Apesar de velhos, eles têm instalação elétrica nova."
Logo depois do desastre, Francisco Franco, curador da coleção destruída, disse que o instituto pedira, sem sucesso, recursos da Fapesp para um sistema de combate automático a incêndio, nos moldes de museus estrangeiros.
Ontem, Franco corrigiu. "Parece que esse pedido não foi encaminhado. Não tenho certeza", diz ele. "Não poderia ter acontecido, mas aconteceu. 'C'est la vie.' [É a vida]."
Agora, segundo Mercadante, BNDES, Fapesp e o governo estadual já entraram em contato oferecendo dinheiro para construir um novo prédio, com métodos modernos contra o fogo.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, afirmou que divulgará nota sobre o desastre. Disse também que sua pasta vai contribuir "como for possível, para recuperar o que for possível" do acervo.
Ontem, a Defesa Civil vistoriou o velho galpão incinerado. Parte do telhado ameaça desabar, tornando arriscado o resgate do que sobrou.
Segundo Franco, hoje pela manhã o telhado será escorado. Após isso, os pesquisadores poderão entrar no prédio e retirar o material que sobrou.
Eles ainda não sabem bem quanto do acervo poderá ser recuperado. "O resultado dessa avaliação só sairá depois de um trabalho de formiguinha. São vários vidrinhos com nomezinhos, não é uma operação simples", diz Mercadante.
Tendo observado o interior do prédio, porém, os cientistas já acham que parte razoável do material será salva. "Eu tinha plena certeza de que tínhamos perdido tudo", afirmou Franco.
REINALDO JOSÉ LOPES
RICARDO MIOTO
da Reportagem Local
Fonte: Folha de São Paulo 

2 comentários:

  1. Olha o que a Carta Capital escrevia sobre o Butantan em novembro de 2009 -
    A fundação é responsável pela administração do renomado Instituto Butantan, fabricante de soro e de cerca de 90% das vacinas consumidas no País, compradas pelo Ministério da Saúde. O instituto é um centro de pesquisa biomédica vinculado à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Seu orçamento é de 300 milhões de reais e, no próximo ano, deve chegar a 500 milhões por causa da comercialização de novas vacinas contra a gripe suína.

    Depois das primeiras denúncias, servidores estaduais afirmam agora que os desvios podem chegar a 100 milhões de reais. Outras empresas beneficiadas com grande volume de recursos passaram a ser investigadas pelo Ministério Público. Até o momento, são suspeitos de envolvimento oito funcionários e, no mínimo, cinco empresas.

    O mentor do esquema seria o ex-gerente-financeiro da fundação Adalberto da Silva Bezerra, demitido por justa causa em dezembro do ano passado. Foram encontrados na conta do ex-funcionário 4,6 milhões de reais. O salário dele era de 10 mil reais ao mês.

    Promotores admitiram a possibilidade de o rombo nos cofres públicos ser bem maior. “Há comentários, mas não dá para dizer que sim nem que não. A documentação constatada até o momento comprova a soma de 35 milhões de reais”, afirmou o promotor Airton Grazzioli, da Curadoria de Fundações do Ministério Público de São Paulo.

    ResponderExcluir
  2. É triste constatar que existe corrupção até no meio científico, que vergonha para o nosso país!

    ResponderExcluir

Sua participação é importante. Deixe aqui o seu comentário!