quinta-feira, 20 de maio de 2010

Plásticos oxibiodegradáveis??

Taxadas como uma das grandes vilãs do meio ambiente neste início de século, as sacolas plásticas se amontoam nos lixões do país, bóiam nos nossos mares e rios ou se espalham pelas ruas das cidades. Afinal, o que você faz com a sacola plástica do mercado?
Para movimentar a discussão, surgiram os plásticos oxibiodegradáveis, com a promessa de se decomporem em até 18 meses. Eles chegaram ao mercado como a solução de todos os problemas ambientais, mas são seriamente criticados e postos à prova pelos especialistas, incluindo fabricantes dos plásticos tradicionais.
O professor de engenharia ambiental da Escola Politécnica da UFRJ Haroldo Mattos de Lemos, é enfático ao dizer que não existe plástico oxibiodegradável. “Não é biodegradável porque não entra em nenhum processo biológico. Eles usam aditivos que fazem com que o plástico se esfarele rápido, mas ele não se degrada totalmente. O nome é impróprio”, observa Lemos, que preside Instituto Pnuma Brasil. Haroldo de Lemos lembra que em fevereiro deste ano, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) editou nova norma sobre as nomenclaturas dos plásticos com objetivo de determinar o que é realmente biodegradável.
Presidente do Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos (Plastivida), o engenheiro químico Francisco de Assis Esmeraldo informa que foi assinado um compromisso com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) para que os estabelecimentos de todo país só comprem sacolas plásticas aprovadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (InMetro). Ele também reforça a inexistência do tal plástico oxibiodegradável.
Um produto químico quebra a estrutura molecular, tornando o material degradável. Esse processo se faz com a presença do oxigênio, por isso o nome “oxi”, pois é um processo de oxidação. No caso do suposto oxibiodegradável, as fábricas colocam aditivos na fórmula do plástico que quebram as cadeias moleculares mais rapidamente. “É como se você colocasse a sacola no triturador. Ela permanece na natureza como pó, com as mesmas características e levará as mesmas centenas de anos para se degradar”, explica Esmeraldo.
Já na biodegradação todo material é transformado em CO2 e água. O engenheiro químico observa ainda que a palavra “biodegradável” é muito sedutora e que os fabricantes se valem desse jogo de palavras para iludir a população.
Poluição invisível
Você pode perguntar: mas não é bom que o plástico suma? Depende. Os aditivos usados para catalisar o processo de “degradação” são, geralmente, compostos por metais de transição ou metais pesados que têm um impacto ambiental sério. “Ninguém sabe exatamente os impactos que o plástico oxibiodegradável acarretará, mas ele foi lançado como a salvação da lavoura”, critica a técnica em química Cristiana Passinato.
Para ela, o pior é o resíduo dos catalisadores químicos usados na aceleração do processo de decomposição. “Nos lixões, por exemplo, o solo é contaminado por esses metais pesados, assim como os arredores. Esta questão é ignorada e jogada para debaixo do pano. O impacto tem que ser citado e esses aditivos devem ser substituídos”, alerta.
“O problema não é mais visto, mas ele continua lá”, observa Haroldo Mattos de Lemos, presidente do Instituto Pnuma Brasil. O grande apelo dos fabricantes desse tipo de plástico é a possibilidade de desaparecimento em um ano e meio, e não mais em séculos, que gera uma sensação de solução. O possível desaparecimento pode acirrar o consumo indiscriminado do plástico. “Pensa-se unitariamente, e se esquece do montante acumulado com o tempo”, alerta Cristiana Passinato.
Um ponto levantado por Haroldo de Lemos e que pode parecer controverso é que se o plástico degradar rapidamente, liberando gases que acentuam o efeito estufa, ele contribuirá para o aquecimento global e mudanças climáticas, problemas ambientais imediatos e atuais. Desta forma, o plástico oxibiodegradável mais uma vez não pode ser visto como tão benéfico assim. “Quanto mais esse processo de decomposição demorar, menos emissões ocorrerão”, conclui Haroldo de Lemos.
(Mariana Hansen)

Fonte: http://www.fiocruz.br/jovem/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home


Para saber mais:
Campanha Consumo Consciente de Embalagens
Plastivida
Cempre
ResBrasil
Ministério do Meio Ambiente
Pnuma Brasil
Usina Verde

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